1. A alegoria da Caverna
A
filosofia platônica tem a preocupação política, quer formar jovens que possam
atuar como político, em sua Academia, não era qualquer um que era aceito,
Platão acreditava que os homens nasciam diferentes, e somente os com alma
dotada de tais possibilidades poderia ser aceitos.
Platão
tem dois problemas básicos que quer resolver com a sua filosofia. Por um lado a
tradição pré-socrática não tinha dado uma resposta satisfatória para o problema
do movimento, e em segundo lugar teria que levar em conta os ensinamentos
antropológicos do seu mestre, que era o conhecimento que levaria ao bem. Ou
seja, explicar porque as coisas fluem e de outro permanecessem estáticas.
Platão era
dualista, defendia que o mundo era dividido em mundo das idéias de onde a alma
fazia parte e mundo sensível de onde os objetos faziam parte.
Vejamos:
“.... representa da seguinte forma o estado de
natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens em morada
subterrânea, em forma de caverna, que tenha em toda a largura uma entranha
aberta para a luz; estes homens aí se encontram deste a infância, com as pernas
e o pescoço acorrentados, de sorte que não podem mexer-se nem ver alhures
exceto diante deles, pois a corrente os impede de virar a cabeça; a luz lhes
vem de um fogo acesso sobre uma eminência, ao longe atrás deles; entre o fogo e
os prisioneiros passa um caminho elevado; imagina que ao longo deste caminho,
ergue-se um pequeno muro, semelhante aos tabiques que os exibidores de
fantoches erigem à frente deles e por cima dos quês exibem suas maravilhas.
(...)
Figura, agora, ao longo deste pequeno muro homens a
transportar objetos de todo gênero, que ultrapassam o muro, bem como estatuetas
de homens e animais de pedra, de maneira e de toda espécie de matéria;
naturalmente, entre estes portadores, uns falam e outros se calam.
(...) um estranho quadro e estranhos prisioneiros!
(...)
Considera agora, o que lhes sobrevirá naturalmente
se forme libertos das cadeias e curados da ignorância. Que se separe um desses
prisioneiros, que o forcem a se levantar imediatamente, a volver o pescoço, a
caminhar, a erguer os olhos à luz: ao efetuar todos esses movimentos sofrerá, o
ofuscamento o impedirá de distinguir os objetos cuja sombra enxergava há pouco.
O que achas, pois, que ele responderá se alguém lhe vier dizer eu tudo quanto
vira até então era apenas vãos fantasmas, mas que presentemente, mais perto da
realidade e voltado para objetos mais reais, vê de maneira mais justa? Não crês
que ficará embaraçado e que as sombras que via a pouco lhe parecerão mais
verdadeiras do que os objetos que ora são mostrados?
(...)
E se o forçam a fitar a própria luz, não ficarão
seus olhos feridos? Não tirará dela a vista, para retornar às coisas que pode
olhar, e não crerá que estas são realmente mais distintas do que as outras que
lhe são mostradas?
(...)
Necessitará, pensa, o hábito para ver os objetos da
região superior. Primeiro distinguirá mais facilmente as sombras, depois as
imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas, a seguir os
próprios objetos. Após isso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e a
lua, contemplar mais facilmente durante a noite os corpos celestes e o céu
mesmo, do que durante o dia o sol e sua luz.
(...)
Por fim, imagino, há de ser o sol, não sua vãs
imagens refletidas nas águas ou em qualquer outro local, mas o próprio sol em
seu verdadeiro lugar, que ele poderá ver e contemplar tal como é.
(...)
Imagine ainda que este homem torne a descer à
caverna e vá sentar-se em seu antigo lugar, não terá ele os olhos cegados pelas
trevas, ao vir subitamente o pleno sol?
(...)
E se, para julgar estas sombras, tiver que entrar
de novo em competição, com os cativos que não abandonaram as correntes, no
momento em que ainda está com a visa confusa e antes que seus olhos se tenham
reacostumado (...), não provocará riso à própria custa e não dirão eles que,
tendo ido para cima, voltou com a visa arruinada, de sorte que não vale mesmo a
pena tentar subir até lá. (...)
(...)
Cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que
dissemos mais acima, comparar o mundo que a vista nos revela à morada da prisão
e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. No que se refere à subida à
região superior e à contemplação de seus objetos, se a considerares como a
ascensão da alma ao lugar inteligível (...) tal é minha opinião: o mundo
inteligível, a idéia do bem é percebida por último e a custo, mas não se pode
percebê-la sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direto e belo em
todas as coisas, que ela engendrou, no mundo visível, a luz e o soberano da
luz; que, no mundo inteligível, ela é própria é soberana e dispensa a verdade e
a inteligência; e que é preciso vê-la para conduzir-se com sabedoria na vida
particular e na vida pública.
(...)
A educação é, portanto, a arte que se propõe este
fim, a conversão da alma, e que procura os mies mais fáceis e mais eficazes de
operá-la, ela não consiste em dar a vista ao órgão da alma, pois que este já o
possui; mas como ele está mal disposto e não olha para onde deveria, a educação
se esforça por leva-lo à boa direção” (A republica, Platão, in Andery, p.
71-13).
2. O conhecimento
Platão não buscava as verdades essências da forma
física como buscavam Demócrito e seus seguidores, sob influência de Sócrates
buscava a verdade de forma contemplativa, isto significa, buscar a verdade no
interior do próprio homem. Porém o próprio homem não é meramente subjetivo, mas
como um participante das verdades essenciais do ser.
Platão assim
como seu mestre Sócrates busca descobrir as verdades essenciais das coisas. O
conhecimento era assim o conhecimento do próprio homem, mas sempre ressaltando
o homem não enquanto corpo, mas enquanto alma. O conhecimento que continha na
alma era a essência daquilo que existia no mundo sensível, assim em Platão
também a técnica e o mundo sensível era secundário. Eu reconheço um cavalo,
porque tenho a idéia perfeita de um cavalo em minha alma, isto significa, que a
alma perfeita já teve acesso a perfeição da idéia de cavalo, antes da
experiência física do cavalo, porém só se da conta deste conhecimento no
momento em que experiência o cavalo. Mas esta experiência seria sempre só
passageira se a forma imutável do cavalo não fosse reconhecida pela alma. A
alma humana enquanto perfeita participa do mundo perfeito das idéias, porém
este formalismo só é reconhecível na experiência sensível.
Também
o conhecimento tinha fins morais, isto é, levar o homem a bondade e a
felicidade. Assim a forma de conhecimento não era a pesquisa, e sim a
contemplação, que faria o homem dar-se conta das verdades que sempre já possuía
e que levavam-no a discernir melhor dentre as aparências de verdades e as
verdades. A obtenção do autoconhecimento
era um caminho árduo e metódico.
Referente
ao mundo material o homem pode ter somente a doxa (opinião) e téchne (técnica),
que permitia a sobrevivência do homem, ao passo que referente ao mundo das
idéias, ou verdadeiro conhecimento filosófico o homem pode ter a épisthéme (verdadeiro
conhecimento).
Platão
não defendia que todas pessoas tivessem igual acesso a razão, apesar de todos
terem a alma perfeita, porém nem todos chegavam a contemplação absoluta do mundo
das idéias.
3. O homem de alma imortal e perfeita, e corpo mortal
O homem para Platão era dividido em
corpo e alma. O corpo era a matéria e a alma era o imaterial e o divino que o
homem possuía. Ao passo que o corpo sempre está em constante mudança de
aparência, forma... a alma não muda nunca, a partir do momento em que nascemos
temos a alma perfeito, porem não sabemos. A verdades essenciais estão escritas
na alma eternamente, porém ao nascermos esquecemos, pois a alma é aprisionada
no corpo.
Platão
acreditava que a alma depois da morte reencarnava em outro corpo, mas a alma
que se ocupava com a filosofia e com Bem esta era privilegiada ao morrer, a ela
era concedida o privilégio de passar o resto de seus tempos em companhia dos
deuses.
O
conhecimento da alma é que dá sentido à vida. Tudo foi criado pelo Demiurgo
(seu criador), um divino artesão que criou o mundo real e sua aparência.
Ação
do homem se restringe ao mundo material, no mundo das idéias o homem não pode
transformar nada. Porque se é perfeito não pode ser mais perfeito.
4. Para aprofundar: teoria do conhecimento
O
conhecimento referente as coisas visíveis inicia com as imagens, as aparências,
os reflexos da água, as sombras, são as formas mais rudimentares do
conhecimento, fulgazes e falsas. O segundo nível já não é mais a aparência, mas
os próprios objetos destas imagens, como animais, plantas... Destes objetos
podemos ter opiniões, ainda não sabemos nada alem do sentidos, podemos ter
tato, visão, audição, olfato e paladar. Mas ainda não pode ser considerado um
conhecimento propriamente dito.
O
terceiro nível já se encontra no conhecimento inteligível. Que sem auxilio de
imagem qualquer chega a um principio. Neste nível encontram-se as figuras
geométricas, a aritmética, os ângulos, os números pares e impares...é o
conhecimento matemático. Aqui existe um conhecimento que independente do
sensível, alcança rigor lógico. Na matemática a alma é levada a sair do mundo
sensível para o conceitual. É um nível de conhecimento que não encontra mais
ressonância no mundo físico e prepara a alma para a dialética. No Quarto
estágio a alma elabora hipóteses que servem de trampolim à princípios
universais. Ela dialeticamente só se apega a suas próprias idéias para chegar a
conclusão. Assim o homem quando se torna dialético compreende a realidade de
todas as coisas. É assim que o homem através do diálogo penetra na verdade de
todas as coisas.
A
realidade das coisas está nas idéias, o físico é mera aparência. O verdadeiro
conhecimento das coisas não pode ser mutável, isto significa que a verdade não
pode ser vista com os sentidos, porque para os sentidos todas as coisas mudam.
Logo a verdade deve ser algo acessível somente através da razão, pois é na
razão que está a possibilidade de se pensar a imutabilidade das coisas, sendo
assim, a realidade imutável é ideal.
5. A política
“...os
males não cessarão pra os humanos antes que a raça dos puros e autênticos
filósofos chegue ao poder, ou antes que os chefes das cidades, por uma divina
graça, ponham-se a filosofar verdadeiramente”. (Platão).
Esta
afirmação de Platão deve ser compreendida pelo baseado na teria do conhecimento
e lembrando que o conhecimento para Platão tem fins morais. Mas resta-nos
ressaltar outro aspecto. Platão acreditava que existiam três espécies de
virtude baseada na alma. A primeira virtude era a da sabedoria, deveriam se a
cabeça do Estado, ou seja, governante, pois possuem caráter de ouro e utilizam
a razão. A segunda espécie de virtude é a coragem, deveriam se o peito do
estado, isto é, os soldados, pois sua alma de prata é imbuída de vontade. E por
fim, a virtude da temperança, que deveriam ser o baixo-ventre do estado ou os
trabalhadores, pois sua alma de bronze orienta-se pelo desejo das coisas
sensíveis.
Atividades
1- Explique os graus do
conhecimento de Platão (mundo sensível e mundo das idéias) através da alegoria
da caverna.
2- Qual o papel da educação para
Platão?
3- Por que podemos dizer que a
filosofia platônica tinha fins políticos? (Justifique sua resposta com
argumento históricos e filosóficos).
4- Justifique o que Platão entende
com conhecimento filosófico, segundo a seguinte frase: “... os males não
cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos
chegue ao poder, ou antes que os chefes das cidades, por divina graça,
ponham-se a filosofar verdadeiramente”(Platão)
5- Segundo Platão existem dois
tipos de conhecimento: o verdadeiro (episteme) e as meras opiniões (doxa) estes
são os matemáticos e filosóficos, e a diferença entre eles são a respeito do
método e objetos.
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