sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Como sabemos alguma coisa?

Ivan Luis Schwengber
O objetivo deste texto é apresentar uma investigação filosófica do que possuímos no interior de nossa mente. Uma investigação acerca do que podemos realmente conhecer significa buscar de onde provém o conteúdo de nossa mente e como temos certeza que este conteúdo corresponde a algo real. Consideraremos que só existe conhecimento porque existe alguém que conhece algo. A questão, a saber, é a seguinte: qual a certeza que o que temos no interior de nossa mente (sabemos) corresponde ao mundo como ele é?


A única coisa que temos certeza que existe é o interior de nossa mente: não temos certeza de que algo exterior existe a não ser pela nossa análise interior.

A atitude vulgar das pessoas é de não duvidar que realmente conheçamos algo. Mas como saber se a folha que estou vendo agora realmente existe? Normalmente cremos que existe porque assim estamos acostumados a aceitar. Colocaremos isto em dúvida.

A primeira hipótese para resolver o problema é partir do mundo exterior, daquilo que experienciamos. Podemos argumentar que estamos vendo ou sentindo a folha, e por isto, sabemos que ela realmente existe, se ela não existisse não poderíamos percebê-la. [Pois eu só posso pensar numa folha porque já tive a experiência desta folha. O conteúdo de nossa mente está diretamente vinculado a nossa experiência exterior, logo, é evidente que esta experiência corresponde a algo real.] .

Mas, o que está posto em dúvida é justamente saber se esta impressão (imagem) corresponde a algo. Se aceitarmos que a imagem existe porque existe um objeto externo, estamos argumentando em círculo. Justificamos a existência da imagem pela existência do objeto real e, depois, justificamos a existência do objeto real pela imagem. Não podemos justificar o que é dado pelos sentidos justificando pelos sentidos ou justificar a experiência a partir da experiência.

Pensemos na hipótese contrária: como se o que existisse só existisse como nosso pensamento. O mundo seria somente um produto de nossa mente, numa espécie de idéia individual. Assim, se todas as coisas que percebemos pelos sentidos fossem algo similar a um sonho ou uma alucinação, como saberíamos se existe o mundo “real”?

Não teríamos como saber se existe ou não um mundo fora de nós. Para solucionar esta hipótese poderíamos recorrer aos sentidos, mas como vimos, os sentidos só teriam significado internos em nossa mente. Ou seja, os sentidos são somente algo que o indivíduo sente, isto não é evidência do exterior, mas somente uma certeza do que estamos sentindo; isto pode simplesmente ser uma ilusão dos sentidos e não corresponder a nada de real exterior.

Tentaríamos provar o que existe fora de nossa mente a partir do que acontece no interior de nossa mente. Isto desemboca necessariamente na idéia de só tenho certeza do que existe dentro de nossa mente, e não teria certeza alguma se o que está fora corresponde a isto. O interior de nossa mente não nos prova nada com certeza a respeito do que está fora. Parece que caímos inevitavelmente na “prisão” de nossa mente, e que tudo o que sabemos pode ser compatível com a idéia de que não existe nada fora dela.

Podemos pensar ainda: como tenho certeza que o corpo que nos pertence realmente corresponde a algo real? Tudo o que sabemos sobre nosso corpo nos é dado pelos sentidos. Se pensar em minhas mãos que estão escrevendo neste momento, sinto-as. Mas se tudo fosse produto de nossa mente? A idéia mais plausível é a de que talvez a única coisa que existe é o sujeito que pensa ou que tem experiências interiores, e o mundo físico poderiam não existir ou, se existe, existe somente em nossa mente. Esta idéia desemboca no solipsismo; de que o que existe, existe só em nossa mente, nosso mundo interior. O solipsismo é uma visão solitária de mundo. Ela se torna angustiante porque o sujeito fica isolado e abandonado em um mundo interior e individual. É solipsista a pessoa que pensa que tudo existe somente quando existe para si.

Concluímos que não podemos saber nada com certeza acerca do mundo exterior. Sabemos somente o que está no interior de nossa mente, e se existe um mundo exterior, sobre este não podemos saber se é tal como nos aparece. Conhecemos nossas impressões ou o que os nossos sentidos nos demonstram. Esta visão é chamada de ceticismo.

Não podemos por em dúvida a própria evidência do sujeito presente, mas podemos aprofundar o ceticismo, se nos perguntarmos acerca das experiências passadas. Todo o passado nos é fornecido pela memória, haja vista que, para nossa mente, só existe o presente, o agora. A memória está amparada na idéia da confiança nas experiências passadas. Assim, se pensar no que estávamos fazendo antes de ler este texto, como tenho certeza que isto existiu? A certeza provém na confiança na experiência que tive naquele momento.

A posição cética pode causar certo desconforto às pessoas que comumente estão acostumadas a aceitar as representações de nossa mente como evidentes na expressão do mundo.

A dúvida é que podemos prever certa causalidade de alguns eventos. Todas experiências devem ter uma causa, isto é, a toda impressão que tenho de um objeto deve corresponder um objeto. A dúvida do cético é: (i) como saber se esta causa existe? (ii) Por que todas as coisas devem ter uma causa? Em suma: o princípio interno da causalidade que nossa mente compreende tem somente validade interna, e não temos nenhuma garantia de que este princípio possa ser aplicado a algo exterior. Isto é, é assim que nós humanos compreendemos a relação exterior das coisas a partir do princípio de causa e efeito. Isto não significa necessariamente que este princípio interno exista na realidade exterior.

Outra dúvida poderia surgir a partir da ciência, que com suas descrições pormenorizadas e analíticas não poderia aproximar-nos mais do mundo físico. A ciência também não ajuda a resolver este problema, porque ela parte de princípios gerais que são aceitos na comunidade cientifica. Estes princípios são os responsáveis pela passagem do senso comum à explicação complexa da realidade. Assim, a ciência é uma explicação do mundo como não nos aparecem. Uma teoria explica algo que não podemos observar diretamente. Logo, a teoria científica é tão vulnerável ou mais à crítica do que as percepções dos sentidos, pois, na experiência ordinária, se aceita a realidade como nos é dada pelos sentidos, ao passo que a ciência reformula a visão ordinária da realidade a partir de princípios lógicos.

Existe, porém uma possibilidade que surge como uma alternativa para o ceticismo. Afirmando que o ceticismo não faz sentido; uma realidade que não pode ser descoberta não é realidade. O sonho só tem sentido enquanto sonho, porque a vigília comprova o sonho. Uma alucinação só é uma ficção da realidade porque comparo com uma realidade que a comprova como tal. Desta forma, se aceita que a “realidade” é um fato da experiência, só poderemos demonstrá-la como falsa ou como mera aparência, se poder ser comparada com outra realidade. A primeira “realidade” somente poderia ser provada como falsa, se existisse alguma forma de provar sua falsidade com uma que não seria falsa. Esta visão chama-se verificacionismo: uma realidade que não puder ser demonstrada como falsa, é real. Não tem sentido falar em realidade que não é descoberta.

O cético, segundo o verificacionismo, se ilude, porque deveria provar que o observável não existe, o que é impossível. Assim, o solipsismo também não faz sentido, porque suprindo o mundo exterior ao sujeito, as impressões passam a ser única realidade deste sujeito. O solipsismo que se baseia na idéia de que a única realidade é a realidade do pensamento, caso não exista outra realidade exterior para demonstrar que a realidade do nosso pensamento é solitária, esta passa ser a única realidade.

O cético argumentaria que existir e observar não são a mesma coisa. Pode existir logicamente um mundo real sem que seja observado. Não há vínculo direto de que existência deve ser experienciada.

Parece que não é possível fugir do confinamento de nossa mente, que é a única evidência absoluta. Toda a tentativa de provar o mundo exterior cai num circulo vicioso. Contudo, as pessoas sempre viverão como se o mundo exterior existisse, apesar do ceticismo ser logicamente mais correto. Em resumo, de maneira natural sempre aceitaremos, mesmo sem razões, as impressões como fonte do real.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Noção de valor

"E esta referência a um sujeito, como característica própria do valor, é uma coisa que logo salta à vista quando pensamos, um momento, na estrutura dos nossos juízos de valor. Este, na sua forma mais geral, reduzem-se semre a afirmar isto: x tem valor. Se atentarmos no conteúdo do juízo, reconheceremos,  porém, imediatemente, que a relação com o sujeito está sempre contida implicitamente dentro dele; no juízo pensa-se sempre, mesmo sem se dar por isso, uma tal relação. È como se dissessemos x tem um valor para José ou Joaquim, isto é, para alguem. Por outras palavras: no conceito de valor está incluído o da sua referência a um sujeito. Valor é sempre valor para alguém. Valor - pode-se dizer - é uma qualidade de uam coisa, que só pode pertencer-lhe em função de um sujeito dotado com uma certa consciência  capaz de a registrar" (Johanes Hessen, p. 47 - Filosofia dos Valores)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Descartes - Penso, logo existo.

NÃO ESTOU SEGURO se deva falar-vos a respeito das primeiras meditações que aí realizei; já que por serem tão metafísicas e tão incomuns, é possível que não serão apreciadas por todos. Contudo, para que seja possível julgar se os fundamentos que escolhi são suficientemente firmes, vejo-me, de alguma forma, obrigado a falar-vos delas. Havia bastante tempo observara que, no que concerne aos costumes, é às vezes preciso seguir opiniões, que sabemos serem muito duvidosas, como se não admitissem dúvidas, conforme já foi dito acima; porém, por desejar então dedicar-me apenas a pesquisa da verdade, achei que deveria agir exatamente ao contrário, e rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida, com o intuito de ver se, depois disso, não restaria algo em meu crédito que fosse completamente contestável. Ao considerar que os nossos sentidos às vezes nos enganam, quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar. E, por existirem homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria, e cometem paralogismos, rejeitei como falsas, achando que estava su jeito a me enganar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então por demonstrações. E, enfim, considerando que quaisquer pensamentos que nos ocorrem quando estamos acordados nos podem também ocorrer enquanto dormimos, sem que exista nenhum, nesse caso, que seja correto, decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos. Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava. (Descartes, Discurso do Método, inicio da quarta Meditaçao)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A resposta para absolutamente tudo

A fundamentação da moral e a religião.

"A dificuldade nao é a de estas questões [éticas/morais], que podem ser resolvidas com normas fundadas na religião, envelheceram, mas sim a de que se deve pôr em duvida a possibildade de ainda hoje fundamentar, sobretudo religiosamente, as normas morais. Uma tal fundamentação pressupõe qeu se é crente. Seria intelectualmente desonesto manter-se ligado a respostas religiosas para as questões morais, apenas porque elas permitem soluções simples, o que nao corresponderia nem à seriedade das questões, nem à seriedade  exigida pela crença religiosa. Entretanto, também o crente nao pode mais fundamentar suas normas morais em sua crença religiosa, pelo menos se ele leva a sério o nao crnete e aquele que possui uma crença diferente da sua. Pois a observância das normas morais é algo que podemos exigir de todos (de qualquer forma assim parece ser), e, para podermos faze-lo, devemos também esperar que isso possa ser tornado compreensível para todos" Tugendhat , p.13 - Liçoes sbre ética.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fragmentos - "Existencialimo é um Humanismo" : Sartre

"Dostoievski escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Eis o ponto de partida do existencialismo. De fato, tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra nele próprio nem fora dela nada a que se agarrar. Para começar, não encontra desculpas. Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si
mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz." SARTRE

sexta-feira, 27 de maio de 2011

ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Manuel Bandeira

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A FILOSOFIA

(Immanuel Kant)


pode-se chamar de filósofo. Mas filosofar é algo que só se pode aprender pelo exercício e o uso próprio da razão.

Como é que se poderia a rigor aprender a Filosofia? Todo pensador filosófico constrói, por assim dizer, sua obra própria sobre os destroços de uma obra alheia; mas jamais se erigiu uma que tenha sido estável em todas suas partes. Não se pode aprender Filosofia já pela simples razão que ela ainda não está dada. E mesmo na suposição de que realmente existisse uma, ninguém que a aprendesse poderia se dizer filósofo; pois o conhecimento que teria dela seria sempre um conhecimento tão-somente histórico –subjetivo. “Mas, no que concerne à Filosofia segundo o conceito de mundo, também se pode chamar-lhe uma ciência da máxima suprema do uso de nossa razão, na medida em que se entende por máxima suprema do uso de nossa razão o princípio interno de escolha entre diversos fins.

Pois a Filosofia no último sentido é, de fato, a ciência em relação ao todo do conhecimento e de todo o uso da razão como fim último da razão humana, ao qual, enquanto fim supremo, todos os outros fins estão subordinados, e no qual estes têm que se reunir de modo a construir uma unidade.

O domínio da Filosofia neste sentido cosmopolita deixa-se reduzir as seguintes questões: 1) O que posso saber? 2) O que devo fazer? 3) O que me é lícito esperar? 4) O que é o homem?

A primeira questão responde a Metafísica; à segunda, a Moral; a terceira, a Religião; e a quarta, a Antropologia. Mas, no fundo, poderíamos atribuir todas essas à Antropologia, porque as três primeiras questões remetem à última.

O filosofo tem, por conseguinte, que poder determinar:

1) as fontes do saber humano,

2) a extensão do uso possível e útil de todo o saber, e finalmente,

3) os limites da razão.

Ninguém que não possa filosofar

A Filosofia é a única ciência que sabe nos proporcionar essa satisfação interna; pois ela fecha, por assim dizer, o círculo científico, e é só então, graças a ela, que as ciências adquirem ordem e conexão.

Por conseguinte, se quisermos nos exercitar na atividade de pensar por si mesmo ou filosofar, teremos que olhar mais para o método de nosso uso da razão do que para as proposições mesma a que chegamos por intermédio dele.” (KANT)

domingo, 8 de maio de 2011

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cultura, Ethos e a Ética

Este texto é uma abordagem que levanta questões referentes a diversidade e a unidade na ética.
Por Ivan Luís Schwengber


Baseado no texto de Nilo Agostini. Ética e Evangelização: A dinâmica da integração na recriação da moral. Petropolis, RJ, 1993

As culturas são produto de uma época, estão inseridas em um espaço e tempo. A partir das culturas desenvolvem-se regras e valores. Se partirmos de uma fundamentação cultural para pensar a ética chegamos ao pressuposto de que o certo e errado de cada sociedade e povo é de acordo com sua cultura. Isto por si só nos causa um mal estar prévio e indigerível, o de que tudo é relativo . O que é inevitável é que o certo e o errado estão marcados profundamente pelas circunstâncias espaço-temporal. O que caberia perguntar é que se este profundamente é fundamentalmente ou não: se o certo e o errado são fundamentados na cultura.

Partiremos do fenômeno de que o certo e o errado de cada povo se manifestam diversamente em povos e culturas diferentes.

O estudo do certo e o errado nas diferentes culturas chamaremos de Ethos. Ethos é o aspecto moral das diferentes culturas , haja vista que o conceito de cultura é demasiadamente amplo para o tratamento filosófica do aspecto ético, pois incluí todas as realizações de um povo sejam materiais ou intelectuais, então para restringir o aspecto cultural que nos interessa neste texto, chamaremos de ethos.

O Ethos é o caráter de um povo, um modo de ser, a Etologia era segundo Wundt, o estudo das manifestações históricas dos costumes e da moralidade, . A partir do Ethos é possível buscar um alicerce das origens das normas nas diferentes culturas. Cada ser humano em sua existência é obrigado a se organizar, desafiado a selecionar as melhores respostas frentes aos desafios. O conjunto destas respostas selecionadas por um povo caracteriza o modo de habitar de morar no mundo.

Esta forma de morar no mundo caracteriza a moral e as normas comuns. O Ethos é manifestado de forma inconsciente e hereditária, pré-disposta ao jeito das pessoas, são anexada e corrigida em novas experiências sócio-culturais. Onde não compreendemos muitas vezes o significado imediato da ação moral. Assim quando fizemos algo errado imediatamente salta-nos um sentimento de remorso ou arrependimento, muitas vezes não temos claro o porquê de determinada ação causar-nos algum tipo de sentimento negativo.

Obviamente que o ethos de uma sociedade não é estático, mas está em constante mudança em termos de adaptações a partir de intercâmbios sociais. Existem fenômenos e fatos morais em determinada sociedade que fazem surgir adaptações e compreensões de determinadas circunstâncias morais que anteriormente não havia. Isto significa que a experiência provoca novas compreensões da realidade. Um exemplo clássico disso seria a lei de habeas corpus, em que antigamente era legitimado torturar até a morte um suspeito o que hoje não é legitimamente (oficialmente) aceita, apesar de no senso comum em frente a crimes hediondos as pessoas em círculos cotianos defenderem enfaticamente o seu uso.

O ethos é a objetivação fenomênica da moral (que por vezes cai no moralismo ). Porém ethos e ética são conceitos diferentes. Ética é um conceito de ordem racional, que reflete sobre os fenômenos morais, já o ethos é a manifestação da moral em termos sociais e espontâneos – até inconscientes.

A partir do ethos têm-se geradores sociais da moral – fundamenta sócio-culturalmente a moral. Há uma identificação do sujeito com sua cultura: quando emitimos juízos de valor similares as pessoas de nossa cultura, sem ter qualquer fundamentação ética para isso. Em outras palavras sujeitos diferentes consideram certo ou errado de forma parecida, sem ter qualquer justificação racional para isso.

Na verdade o ethos é o que permite discutir efetivamente leis jurídicas, normas morais e sociais na prática, mesmo sem nunca ter lido leis e refletido sobre elas.

Como é possível captar o ethos? Não é possível ter acesso ao ethos meramente com o intelecto, mas indo além das evidências. É a partir da fundamentação valorativa e normativa de um grupo. É necessário ir além da historicidade das manifestações de grupos, buscando captar o ser. Essa captação do ser se dá dialeticamente. A dialética permite captar o ethos não como algo estático – “é”; mas com dinâmico, sempre um renovado “vir a se”/ “poder ser”.

Essa dialética se dá através do diálogo com o outro, o “face a face”, uma negação da totalidade firmando a finitude. É nas manifestações espontâneas, nas relações simples entre sujeitos que o ethos aflora. Neste vasculhar de relações cotidianas percebe-se o ethos de um povo, num saber que brota de experiências fecundas. Nas relações valorativas e normativas que permeiam contextos sociais, políticos e culturais. Neste certo e errado espontaneamente aceito, mas somente identificado a luz de uma compreensão mais profunda. Os provérbios são um bom exemplo de ethos manifestado.

Ética, Moral e Ethos.

A moral e ética são etimologicamente similares, porém a moral se refere mais as regras e costumes que orientam o agir humano, a consciência individual; ao passo que a ética busca fundamentar teoricamente a moral. Porém o termo moral também foi historicamente usado como conjuntos doutrinário de regras, como a moral cristã, por exemplo; e neste sentido moral estava ligado ao domínio e ao poder estabelecido. Enquanto que a ética surge como uma reflexão sobre a moral, e por vezes é uma tentativa de buscar uma nova moral para reagir ao domínio estabelecido.

O ethos é o substrato da ética. É a manifestação coletiva e espontânea da ética, comportando valores e contra-valores de uma sociedade. O Ethos necessita de um discernimento e depurativo reflexivo sendo ingênuo e não autocrítico, podendo servir como forma de subjugação das pessoas. O ethos está ligado umbilicalmente a moral, sua codificação de regras e por isso pode servir para manutenção do poder.

A moral conectada ao ethos produz “cegueira ideológica” e absolutização do relativismo, justificando discriminações, preconceitos e domínio de outras pessoas e outras culturas. O embotamento moral é evitado quando se recupera o dinamismo metafísico experienciando a alteridade. A alteridade é compreensão da diversidade e da multiplicidade na relação com o outro, em oposição a identidade e unidade.

Resultado desta corrente é não temer da diversidade e multiplicidade.

sábado, 30 de abril de 2011

A MORTE - Texto de Jaspers - do Livro "Introdução ao Pensamento Filosófico"

1. Toda vida está posta entre dois parênteses: nascimento e morte. E só o homem tem consciência disso.
O nascimento é fato de que não se tem lembrança. Quem se reconhece existindo tem a impressão de que sempre existiu, de que desperta de um sono sem memória. Ouvir falar do próprio nascimento não estimula qualquer recordação. Pessoa alguma guarda experiência do início de seu existir.
Estamos todos destinados à morte. Ignorando o momento em que ela virá, procedemos como se nunca devesse chegar. Em verdade, vivendo, não acreditamos realmente na morte, embora ela constitua a maior de todas as certezas.
A consciência puramente vital desconhece a morte. É preciso que nos demos conta da morte, para que ela se torne uma realidade para nós. A partir daí, transforma-se a morte em uma situação-limite: aqueles que me são mais caros e eu próprio cessaremos de existir. A resposta a essa situação-limite há de ser encontrada na consciência existencial de mim mesmo.
2. Costumamos dizer: o que nasceu deve morrer. A ciência biológica não se contenta com isso. Gostaria de conhecer o porquê. Sobre que processos vitais repousa tal necessidade? Pensa-se em retardar o processo de envelhecimento e chega-se a cogitar de, controlando os processos vitais que levam à morte (processos que um dia
conheceremos), atingir o ponto de poder manter vivo, pelo tempo que se deseje, tudo quanto haja nascido. Ninguém, entretanto, duvida de que, mesmo prolongando artificialmente a vida por tempo cada vez maior, a morte será, ao fim, inevitável. Como o sexo, a morte faz parte da vida. Um e outra permanecem mistérios ligados à fonte de nossa existência.
3. Tememos a morte. Observe-se, porém, que a morte — o cessar de ser — e o ato de morrer — cujo termo é a morte — provocam angústias muito diversas.
O temor da agonia é temor de sofrimento físico. A agonia não se confunde com a morte. A angústia a que ela dá lugar pode manifestar-se em muitas crises, vindo o paciente a recuperar-se. E poderá ele dizer: “morri várias vezes”. Não obstante, a experiência colhida nessas ocasiões não é a experiência da morte. Todo sofrimento é experimentado por alguém que está vivo. A morte escapa à experiência.
O processo natural de agonia pode desenrolar-se sem sofrimento; há mortes instantâneas. Em tais casos, não há tempo de o fenômeno atingir a consciência. Pode passar despercebido por coincidir com astenia ou com o sono. A medicina tem meios de reduzir os tormentos gerados por doenças fatais. Embora a agonia seja uma realidade psicofísica, é possível que a biologia e a farmacologia venham, de futuro, a permitir que, em todos os casos, a morte se desacompanhe de sofrimento.
Inteiramente diversa é a agonia diante da morte quando esta é concebida como estado que sucede à desaparição da vida. Nenhum médico nos pode livrar dessa angústia; só o pode a filosofia.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Como sabemos alguma coisa?

por Ivan Luís Schwengber
O objetivo deste texto é apresentar uma investigação filosófica do que possuímos no interior de nossa mente. Uma investigação acerca do que podemos realmente conhecer significa buscar de onde provém o conteúdo de nossa mente e como temos certeza que este conteúdo corresponde a algo real. Consideraremos que só existe conhecimento porque existe alguém que conhece algo. A questão, a saber, é a seguinte: qual a certeza que o que temos no interior de nossa mente (sabemos) corresponde ao mundo como ele é?

A única coisa que temos certeza que existe é o interior de nossa mente: não temos certeza de que algo exterior existe a não ser pela nossa análise interior.

A atitude vulgar das pessoas é de não duvidar que realmente conheçamos algo. Mas como saber se a folha que estou vendo agora realmente existe? Normalmente cremos que existe porque assim estamos acostumados a aceitar. Colocaremos isto em dúvida.

A primeira hipótese para resolver o problema é partir do mundo exterior, daquilo que experienciamos. Podemos argumentar que estamos vendo ou sentindo a folha, e por isto, sabemos que ela realmente existe, se ela não existisse não poderíamos percebê-la. [Pois eu só posso pensar numa folha porque já tive a experiência desta folha. O conteúdo de nossa mente está diretamente vinculado a nossa experiência exterior, logo, é evidente que esta experiência corresponde a algo real.] .

Mas, o que está posto em dúvida é justamente saber se esta impressão (imagem) corresponde a algo. Se aceitarmos que a imagem existe porque existe um objeto externo, estamos argumentando em círculo. Justificamos a existência da imagem pela existência do objeto real e, depois, justificamos a existência do objeto real pela imagem. Não podemos justificar o que é dado pelos sentidos justificando pelos sentidos ou justificar a experiência a partir da experiência.

Pensemos na hipótese contrária: como se o que existisse só existisse como nosso pensamento. O mundo seria somente um produto de nossa mente, numa espécie de idéia individual. Assim, se todas as coisas que percebemos pelos sentidos fossem algo similar a um sonho ou uma alucinação, como saberíamos se existe o mundo “real”?

Não teríamos como saber se existe ou não um mundo fora de nós. Para solucionar esta hipótese poderíamos recorrer aos sentidos, mas como vimos, os sentidos só teriam significado internos em nossa mente. Ou seja, os sentidos são somente algo que o indivíduo sente, isto não é evidência do exterior, mas somente uma certeza do que estamos sentindo; isto pode simplesmente ser uma ilusão dos sentidos e não corresponder a nada de real exterior.

Tentaríamos provar o que existe fora de nossa mente a partir do que acontece no interior de nossa mente. Isto desemboca necessariamente na idéia de só tenho certeza do que existe dentro de nossa mente, e não teria certeza alguma se o que está fora corresponde a isto. O interior de nossa mente não nos prova nada com certeza a respeito do que está fora. Parece que caímos inevitavelmente na “prisão” de nossa mente, e que tudo o que sabemos pode ser compatível com a idéia de que não existe nada fora dela.

Podemos pensar ainda: como tenho certeza que o corpo que nos pertence realmente corresponde a algo real? Tudo o que sabemos sobre nosso corpo nos é dado pelos sentidos. Se pensar em minhas mãos que estão escrevendo neste momento, sinto-as. Mas se tudo fosse produto de nossa mente? A idéia mais plausível é a de que talvez a única coisa que existe é o sujeito que pensa ou que tem experiências interiores, e o mundo físico poderiam não existir ou, se existe, existe somente em nossa mente. Esta idéia desemboca no solipsismo; de que o que existe, existe só em nossa mente, nosso mundo interior. O solipsismo é uma visão solitária de mundo. Ela se torna angustiante porque o sujeito fica isolado e abandonado em um mundo interior e individual. É solipsista a pessoa que pensa que tudo existe somente quando existe para si.

Concluímos que não podemos saber nada com certeza acerca do mundo exterior. Sabemos somente o que está no interior de nossa mente, e se existe um mundo exterior, sobre este não podemos saber se é tal como nos aparece. Conhecemos nossas impressões ou o que os nossos sentidos nos demonstram. Esta visão é chamada de ceticismo.

Não podemos por em dúvida a própria evidência do sujeito presente, mas podemos aprofundar o ceticismo, se nos perguntarmos acerca das experiências passadas. Todo o passado nos é fornecido pela memória, haja vista que, para nossa mente, só existe o presente, o agora. A memória está amparada na idéia da confiança nas experiências passadas. Assim, se pensar no que estávamos fazendo antes de ler este texto, como tenho certeza que isto existiu? A certeza provém na confiança na experiência que tive naquele momento.

A posição cética pode causar certo desconforto às pessoas que comumente estão acostumadas a aceitar as representações de nossa mente como evidentes na expressão do mundo.

A dúvida é que podemos prever certa causalidade de alguns eventos. Todas experiências devem ter uma causa, isto é, a toda impressão que tenho de um objeto deve corresponder um objeto. A dúvida do cético é: (i) como saber se esta causa existe? (ii) Por que todas as coisas devem ter uma causa? Em suma: o princípio interno da causalidade que nossa mente compreende tem somente validade interna, e não temos nenhuma garantia de que este princípio possa ser aplicado a algo exterior. Isto é, é assim que nós humanos compreendemos a relação exterior das coisas a partir do princípio de causa e efeito. Isto não significa necessariamente que este princípio interno exista na realidade exterior.

Outra dúvida poderia surgir a partir da ciência, que com suas descrições pormenorizadas e analíticas não poderia aproximar-nos mais do mundo físico. A ciência também não ajuda a resolver este problema, porque ela parte de princípios gerais que são aceitos na comunidade cientifica. Estes princípios são os responsáveis pela passagem do senso comum à explicação complexa da realidade. Assim, a ciência é uma explicação do mundo como não nos aparecem. Uma teoria explica algo que não podemos observar diretamente. Logo, a teoria científica é tão vulnerável ou mais à crítica do que as percepções dos sentidos, pois, na experiência ordinária, se aceita a realidade como nos é dada pelos sentidos, ao passo que a ciência reformula a visão ordinária da realidade a partir de princípios lógicos.

Existe, porém uma possibilidade que surge como uma alternativa para o ceticismo. Afirmando que o ceticismo não faz sentido; uma realidade que não pode ser descoberta não é realidade. O sonho só tem sentido enquanto sonho, porque a vigília comprova o sonho. Uma alucinação só é uma ficção da realidade porque comparo com uma realidade que a comprova como tal. Desta forma, se aceita que a “realidade” é um fato da experiência, só poderemos demonstrá-la como falsa ou como mera aparência, se poder ser comparada com outra realidade. A primeira “realidade” somente poderia ser provada como falsa, se existisse alguma forma de provar sua falsidade com uma que não seria falsa. Esta visão chama-se verificacionismo: uma realidade que não puder ser demonstrada como falsa, é real. Não tem sentido falar em realidade que não é descoberta.

O cético, segundo o verificacionismo, se ilude, porque deveria provar que o observável não existe, o que é impossível. Assim, o solipsismo também não faz sentido, porque suprindo o mundo exterior ao sujeito, as impressões passam a ser única realidade deste sujeito. O solipsismo que se baseia na idéia de que a única realidade é a realidade do pensamento, caso não exista outra realidade exterior para demonstrar que a realidade do nosso pensamento é solitária, esta passa ser a única realidade.

O cético argumentaria que existir e observar não são a mesma coisa. Pode existir logicamente um mundo real sem que seja observado. Não há vínculo direto de que existência deve ser experienciada.

Parece que não é possível fugir do confinamento de nossa mente, que é a única evidência absoluta. Toda a tentativa de provar o mundo exterior cai num circulo vicioso. Contudo, as pessoas sempre viverão como se o mundo exterior existisse, apesar do ceticismo ser logicamente mais correto. Em resumo, de maneira natural sempre aceitaremos, mesmo sem razões, as impressões como fonte do real.

Uma breve introdução a Filosofia

Adaptado por Ivan Luis Schwengber
Este texto tem o objetivo de introduzir o leitor à filosofia. Pessoas com idade avançada e que não tiveram oportunidade de apreender ou pessoas que estão em idade de cursar uma faculdade encontrarão neste texto uma introdução fácil. Contudo, o texto também é destinado a estudantes de filosofia do ensino médio que se interessa por questões complexas e reflexões abstratas. Em suma, o texto é destinado a todo e qualquer leitor inexperiente que pretenda dedicar-se à filosofia.

O objetivo deste texto é investigar a importância das questões filosóficas. Quando alcançamos a idade de estudar filosofia, já estamos com nosso raciocínio bem desenvolvido. Grande parte das vezes, isto significa que estamos já acostumados a conviver com certas coisas e dar certas respostas prontas. Questões como: o que podemos conhecer? - o que é certo ou errado?- qual o significado da vida? – qual a razão da morte? – existe Deus? – e outras tantas são questões a respeito das quais todos em algum momento da vida se indagaram, porém, não sendo encontradas as respostas definitivas e conclusivas, nós passamos a aceitar respostas casuais e simples já dadas anteriormente. O objetivo aqui é analisar estas questões naturalmente intrigantes aos seres humanos.

Existem duas maneiras ou métodos para se abordar as questões filosóficas. A primeira consiste em dialogar com autores consagrados, que discutiram longamente estas questões. A segunda maneira de abordagem é nos debruçarmos diretamente sobre tais questões reflexivas, que brotam da relação direta do homem com o mundo.

O método é tratar de questões simples às complexas, se justifica na medida em que este texto é destinado a leitores leigos em filosofia.

A idéia central é defender que a filosofia nasce da relação direta do homem e o mundo, e não somente ler filósofos. Ler filósofos já consagrados permite-nos enveredar diretamente no círculo filosófico já consagrado, porém a filosofia nasce da indagação direta do homem sobre o mundo, logo, a leitura deve manter este vínculo instigante do homem com o mundo. A filosofia é uma indagação natural do ser humano, manter ou despertar esta indagação qualifica o estudante a ler textos filosóficos.

Quando buscamos respostas a estas questões na filosofia, encontramos textos que freqüentemente têm uma linguagem específica, criando empecilhos para a reflexão por possuir marcas da época e dos conceitos próprios do autor. Esta dificuldade desperta aversão do leitor, que perde o vínculo da reflexão com a indagação, fazendo-o facilmente desistir do estudo de filosofia. Vejamos algumas características da filosofia:

I. A filosofia encontra-se entre as disciplinas das escolas e constitui uma área do conhecimento, mas qual será o espaço da filosofia no conhecimento? A filosofia é juntamente com a matemática, uma ciência da razão, porém se diferencia matemática, porque não possui um método de análise de seus resultados. Esta caracterização consiste em considerar a filosofia uma ciência da razão, como a matemática, mas devido a sua relação direta com os inúmeros problemas enfrentados pelo homem na sua relação com o mundo, não pode ter um método que garanta resultados exatos.

II. A filosofia não se assemelha às ciências da natureza por não se justificar por meio de observações e experimentos, mas questiona o fundamento conceitual e cognitivo destes experimentos. Em suma, a filosofia é apenas uma idéia, em que se imaginam argumentos para testar o limite e o alcance de nossos conceitos, isto significa tentar precisar até que ponto nosso pensamento consegue expressar a realidade. A filosofia não passa de um pensamento que não tem utilidade direta, mas tudo que ela aborda é tratado apenas nos limites do pensamento; sendo que por vezes nosso pensamento pode não estar submetido ao rigor lógico de expressar uma coerência verdadeira na interpretação do mundo. É assim, é uma ciência discursiva, pois lida somente com conceitos. Assim, ninguém precisa definir o número 1 (um), mas simplesmente o aceitamos como evidente, no entanto, ao perguntar acerca do espaço, de Deus, alma, liberdade, do Eu, logo percebemos que surgirão dificuldades para aceitar um consenso ou e uma grande dificuldade para defini-los. Logo, a esta segunda caracterização consiste em diferenciar a filosofia das ciências naturais, no que tange as experiências.

A terceira diferenciação consiste em demonstrar como a filosofia faz um questionamento profundo, que a ciência tem como pressuposto. A especificidade da filosofia é a sua simplicidade. Uns questionamentos simples do nosso dia-a-dia, que a ciência pressupõe. Portanto, a filosofia tem uma característica ampla e interdisciplinar. Por exemplo: a história estuda os acontecimentos no tempo, a filosofia pergunta o que é o tempo; a ciência pergunta sobre as relações da matéria, a filosofia pergunta, se podemos conhecer a matéria. É assim com a psicologia, física, línguas etc.

A filosofia questiona a coisa em si, isto significa que enquanto que a física e a geografia lidam e aceitam a noção de espaço, e a partir dele fazem suas implicações, a filosofia tentará definir o que é o espaço enquanto tal. Questionando-a, questiona o mundo e nós mesmos. Esta indagação sobre as coisas em si é simples e básica. Estas questões simples em geral não requerem recursos técnicos ou instrumentais, como microscópio ou medidores avançados, estão à disposição de toda e qualquer pessoa que se proponha a questionar e refletir sobre elas. Portanto na maioria das vezes, estas são consideradas desnecessárias para o cotidiano atarefado das pessoas.

As questões filosóficas são problemas sem solução cabal. São problemas que recebem respostas que não possuem longa sustentação temporal, pois logo sofrem novos questionamentos. O objetivo do presente texto não é, todavia, dar uma resposta, mas apresentar o problema e, a partir disto, apresentar possíveis soluções ou caminhos de solução, sempre reservando ao leitor a possibilidade de aceitá-las ou rejeitá-las.

Vejamos algumas das principais questões filosóficas.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Razão: Instrumental e Crítica

"Estamos assistindo hoje, em todo o mundo, a tendências que fazem prever o advento de um novo irracionalismo. Mas ele é mais perturbador que o antigo, porque não está mais associado a posições políticas de direita. A razão não é mais repudiada por negar realidades transcendentes — a pátria, a religião, a família, o Estado —, e sim por estar comprometida com o poder. O novo irracionalismo se considera crítico e denuncia um statu quo visto como hostil à vida. A partir de uma certa leitura de Foucault, Deleuze e Lyotard, e sob a influência de um neonietzscheanismo que vê relações de poder em toda parte, ele considera a razão o principal agente da repressão, e não o órgão da liberdade, como afirmava a velha esquerda.
Ora, sustento que o irracionalismo mudou de rosto, mas não mudou de natureza. Hoje como ontem, só a razão é crítica, porque seu meio vital é a negação de toda facticidade, e o irracionalismo é sempre conformista, pois seu modo de funcionar exclui o trabalho do conceito, sem o qual não há como dissolver o existente.
Mas há um núcleo de verdade no novo irracionalismo: o conceito clássico de razão deve efetivamente ser revisto. Depois de Marx e Freud, não podemos mais aceitar a idéia de uma razão soberana, livre de condicionamentos materiais e psíquicos. Depois de Weber, não há como ignorar a difeçença entre uma
razão substantiva, capaz de pensar fins e valores, e uma razão instrumental, cuja competência se esgota no ajustamento de meios a fins. Depois de Adorno, não é possível escamotear o lado repressivo da razão, a serviço de uma astúcia imemorial, de um projeto imemorial de dominação da natureza e sobre os homens. Depois de Foucault, não é lícito fechar os olhos ao entrelaçamento do saber e do poder. Precisamos de um racionalismo novo, fundado numa nova razão.
Numa primeira aproximação, diríamos que o novo racionalismo exige uma razão capaz de crítica e de autocrítica. Ela é capaz de crítica na medida em que reconhece sua competência para lidar com o mundo normativo, desafiando o grande interdito positivista, pelo menos tão antigo quanto Hume, que a condenava
a trabalhar exclusivamente com o mundo dos fatos. Ela submete à sua jurisdição o reino dos valores e avalia a maior ou menor racionalidade das normas. Ela se considera competente, também, para denunciar a desrazão travestida de razão, numa crítica cujo modelo foi fornecido por Marx, quando mostrou a presença na razão oficial de uma relação de poder infiltrada, e por Freud, que nos ensinou a decifrar o desejo nos interstícios do discurso manifesto. E é capaz de autocrítica, na medida em que reconhece sua vulnerabilidade ao irracional: ou o irracional proveniente da falsa consciência — incapacidade socialmente condicionada de conhecer —, ou o irracional sedimentado no inconsciente e que tenta continuamente sabotar a objetividade do pensamento. No fundo, não há diferença entre esses dois limites da razão, como tentei mostrar em outro livro, A Razão Cativa: a coação externa age através dos mecanismos que regulam nossa vida pulsional. A verdadeira razão é consciente dos seus limites, percebe o espaço irracional em que se move e pode, portanto, libertar-se do irracional.
Podemos agora entender a distinção que tracei num dos ensaios deste livro — "Erasmo, pensador iluminista" — entre a razão louca e a razão sábia. A primeira é uma razão que abdica de suas prerrogativas críticas, inclusive da prerrogativa de desmascarar a pseudo-razão, a serviço do poder e do desejo, e é uma razão narcísica, ingênua e arrogante ao mesmo tempo, que, por desconhecer o irracional que a cerca, torna-se presa dele.
A razão sábia é a que identifica e critica a irracionalidade presente no próprio sujeito cognitivo e nas instituições externas, assim como nos discursos que se pretendem racionais — as ideologias. Exponho mais amplamente essa polaridade em palestra qu.e pronunciei sob os auspícios da Funarte — "Razão e paixão"
—, a ser publicada por esta mesma editora.
Mas não basta postular a necessidade da razão sábia: é reciso demonstrar que ela é viável, nas condições contemporâneas. Afinal, seu direito à existência parece ser negado por Foucault,quando disse que toda razão, mesmo a que critica o poder, emana de outro poder, e por Adorno, que afirmou o desaparecimento
no mundo de hoje das últimas reservas de racionalidade crítica." (Rouanet, p.11,12 13)
SÉRGIO PAULO ROUANET  - AS RAZÕES DO ILUMINISMO

O que é isto a Filosofia - Heidegger

QU’EST-CE QUE LA PHILOSOPHIE?




COM ESTA questão tocamos um tema muito vasto. Por ser vasto, permanece indeterminado. Por ser indeterminado, podemos tratá-lo sob os mais diferentes pontos de vista e sempre atingiremos algo certo. Entretanto, pelo fato de, na abordagem deste tema tão amplo, se interpenetrarem todas as opiniões, corremos o risco de nosso diálogo perder a devida concentração.

Por isso devemos tentar determinar mais exatamente a questão. Desta maneira, levaremos o diálogo para uma direção segura. Procedendo assim, o diálogo é conduzido a um caminho. Digo: a um caminho. Assim concedemos que este não é o único caminho. Deve ficar mesmo em aberto se o caminho para o qual desejaria chamar a atenção, no que segue, é na verdade em caminho que nos permite levantar a questão e respondê-la.

Suponhamos que seríamos capazes de encontrar um caminho para responder mais exatamente à questão; então se levanta imediatamente uma grave objeção contra o tema de nosso encontro. Quando perguntamos: Que é isto — a filosofia?, falamos sobre a filosofia. Perguntando desta maneira, permanecemos, num ponto acima da filosofia e isto quer dizer fora dela. Porém, a meta de nossa questão é penetrar na filosofia, demorarmo-nos nela, submeter nosso comportamento às suas leis, quer dizer, “filosofar”. O caminho de nossa discussão deve ter por isso não apenas uma direção bem clara, mas esta direção deve, ao mesmo tempo, oferecer-nos também a garantia

de que nos movemos no âmbito da filosofia, e não fora e em torno dela.

O caminho de nossa discussão deve ser, portanto, de tal tipo e direção que aquilo de que a filosofia trata atinja nossa responsabilidade, nos toque e justamente em nosso ser.

Mas não se transforma assim a filosofia num objeto de nosso mundo afetivo e sentimental?

(...) Mesmo os mais belos sentimentos não pertencem à filosofia. Diz -se que os sentimentos são algo de irracional. A filosofia, pelo contrário, não é apenas algo racional, mas a própria guarda da ratio. Afirmando isto decidimos sem querer algo sobre o que é a filosofia. Com nossa pergunta já nos antecipamos à resposta. Qualquer uma terá por certa a afirmação de que a filosofia é tarefa da ratio. E, contudo, esta afirmação é talvez uma resposta apressada e descontrolada à pergunta: Que é isto — a filosofia? Pois a esta resposta podemos contrapor novas questões. Que é isto — a ratio, a razão? Onde e por quem foi decidido o que é a razão?

Arvorou-se a ratio mesma em senhora da filosofia? Em caso afirmativo, com que direito? Se negativa a resposta, de onde recebe ela sua missão e seu papel?

Se aquilo que se apresenta como ratio foi primeiramente e apenas fixado pela filosofia e na marcha de sua história, então não é de bom alvitre tratar a priori a filosofia como negócio da ratio. Todavia, tão logo pomos em suspeição a caracterização da filosofia como um comportamento racional, torna-se, da mesma maneira, também duvidoso se a filosofia pertence à esfera do ir racional.

Pois quem quiser determinar a filosofia como irracional, toma como padrão para a determinação o racional, e isto de um tal modo que novamente pressupõe como óbvio o que seja a razão.

Se, por outro lado, apontamos para a possibilidade de que aquilo a que a filosofia se refere concerne a nós homens em nosso ser e nos toca, então poderia ser que esta maneira de ser afetado não tem absolutamente nada a ver com aquilo que comumente se designa como afetos e sentimentos, em resumo, o irracional.

Do que foi dito deduzimos primeiro apenas isto: é necessário maior cuidado se ousamos inaugurar um encontro com o título: “Que é isto — A Filosofia?”

quinta-feira, 31 de março de 2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ética: slides de apoio de aula.

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O conhecimento: apontamentos didáticos.(texto introdutório)

Por Ivan Luís Schwengber 2011


Introdução

O conhecimento sempre esteve intimamente ligado ao desenvolvimento das reflexões filosóficas, e por vezes, como é o caso na Idade Moderna objeto principal do conhecimento. O que proponho neste texto é investigar o conhecimento de forma geral. Esta ideia não tem a pretensão de formatar o conhecimento dentro de uma teoria rígida, formatando a reflexão na forma de cristalização.



O conhecimento, o ser humano e a filosofia

O conhecimento é um campo de estudo da filosofia. A própria filosofia é inseparável do problema do conhecimento, quase havendo fusão entre ambos. Para alguns intelectuais estudar filosofia é praticamente estudar do conhecimento humano.

O conhecimento é por excelência uma atividade humana. Partindo da pergunta de ‘de quem é o homem ’. O homem torna-se humano como outros seres humanos, o que significa humanização. Tornar-se humano é um tipo de desenvolvimento que torna o homem um ser humano, o homem nasce uma possibilidade de desenvolvimento. O homem humaniza-se pela inteligência, que na relação com o mundo, nada mais é do que conhecer.

Se perguntarmos ‘O que é o homem?’ A resposta clássica é ‘O homem é um animal racional’. O que significa esta definição? O homem nasce animal, como outro qualquer, mas possui uma potencialidade que o difere: razão. A razão faz toda a diferença i) para si, ii) para o mundo e iii) na relação com os outros. i) O homem torna-se humano, consegue dar sentido, compreender e desenvolver sua inteligência, o que simplesmente é tornar-se humano; ii) O homem consegue transformar o mundo, conhecer a lógica da natureza, intervir na natureza e melhorar; iii) O homem constrói uma sociedade de convívio mútuo, desenvolve a cultura que é repassada pela educação e faz ciência.

O homem possui esta capacidade de se tornar racional, isto significa que a racionalidade desenvolve-se com o ser humano. Esta visão é dos filósofos existencialistas , estes compreendem o homem como um projeto de autodesenvolvimento.

O produto da razão é o conhecimento. O conhecimento permite o homem agir moralmente, trabalhar e transformar o mundo, e ainda repassar o conhecimento.

Enquanto que os animais respondem as necessidades que a vida os impõe, através do instinto, o ser humano reage significativamente diferente, através da atividade intelectual, que é a razão .

O conhecimento é fruto da razão humana. É uma forma não instintiva, que o ser humano encontra para dar resposta aos desafios que o mundo lhe impõe. O conhecimento é uma forma mais sofisticada de se adaptar e reagir ao mundo.

Todo conhecimento que esteja enraizado na essência humana humaniza o homem. Quando se define o ser humano como um ser racional, um ser pensante pretende-se gerir algo diferente: no horizonte do mundo material e físico, a atividade intelectual e o conhecimento ultrapassam este estreito horizonte.

A característica subjetiva do conhecimento permite o ser humano se transformar em um ser diferente: através de cultura, de valores e outras características que emana do ser enquanto racional.

O espírito humano reflete sobre o mundo, mas esta reflexão não é mera sombra do mundo, adquire características singulares, devido à contribuição que o ser humano dá ao mundo, reinterpretando, dando sentido e significados.

Esta reflexão é expressa discursivamente através de palavras, que permitem ao homem manter uma relação mediata com o mundo. Esta mediação é qualitativamente diferente. Quando represento mentalmente um ‘lápis’, está reapresentação mental não é o lápis em si mesmo.

A reflexão não é imediata, mas mediata. O conhecimento é mediado é algo diferente do objeto, mas é uma representação do objeto. Estes meios possibilitam a universalização da experiência, da forma que pode ser usado em outras particularidades, pode ser dita através da linguagem e símbolos; podendo inclusive ser compartilhado com outros seres humanos.

O intelecto humano como sendo não imediato permite o homem transcender a situação empírica e particular, que a singularidade de um sujeito que experiencia têm quando conhece. Permite ao homem manter o passado, especular o futura e dar sentido ao mundo

Permite ao homem fazer umas perguntinhas simples, mas que fazem toda a diferença: o que, como, por que. Vejamos quando nos referimos a um objeto.

I) o que é um lápis? Esta pergunta indaga acerca de uma definição do objeto, é quando a representação mental conceitua a coisa. Ou seja, é o material com o qual nosso pensamento lida: o conceito. As definições dos objetos nunca são possíveis mostrando o objeto, quando se aponta para o objeto dizendo isto aqui é um lápis. A definição é exclusivamente representacional, e uma boa definição deve dar as características essenciais do objeto. Se nós respondemos: ‘O lápis é x (por x compreenderemos que é “um instrumento feito de grafite e utilizado para escrever manualmente com uma das mãos”). Percebemos que logo surgem problemas com estas definições e surgem dúvidas sobre os atributos essenciais para se pensar o conceito de lápis. Imaginemos termos mais escorregadios que não possuem uma apresentação material, como por exemplo, liberdade. É importante salientar que a definições são provisórias e nunca definitivas, são conceituações rasas que permitem o sujeito lidar com o conteúdo mental para refletir. Os conceitos filosóficos nunca são definitivos.

ii) Como é um lápis? Este é o tipo de descrição que fizemos acerca de um objeto. Normalmente com a experiência do objeto, descreve-se o objeto como tendo algumas notas que não são necessariamente essenciais, podem ser meras descrições da aparência. Como sendo preto, grande, pequeno, azul...

iii) Por que é um lápis? Esta pergunta busca o fundamento da representação do objeto, não do objeto. Para as ciências modernas indagar o porquê é indagar a acerca da causa de um determinado efeito. Esta causa é na linha do tempo um momento que está imediatamente anterior e que desempenhe um efeito dominó. Porém, buscar o porquê de forma mais radical é buscar o princípio necessário do objeto ou do evento. Tal indagação radical pode ser um fim teleológico, ou seja, de finalidade da coisa. Vejamos um exemplo mais interessante: Alguém poderia se perguntar ‘Por que eu existo?’, a resposta não necessariamente se encontra no passado, mas também em uma finalidade de sua existência. Em suma, a busca do por que radical foge da esfera temporal, isto é, científica, e encontra resíduos na religião ou em busca de resposta últimas que a filosofia busca.

quinta-feira, 17 de março de 2011

2. A posição da teoria do conhecimento no sistema da filosofia 2 serie

Com essa definição, surge imediatamente uma divisão da filosofia em suas diferentes disciplinas. Como vimos, a filosofia é antes de mais nada auto-reflexão do espírito sobre seu comportamento valorativo teórico e prático. Enquanto reflexão sobre o comportamento teórico, sobre aquilo que chamamos de ciência, a filosofia é teoria do conhecimento científico, teoria da ciência. Enquanto reflexão sobre o comportamento
prático do espírito, sobre o que chamamos de valor no sentido estrito, a filosofia é teoria do valor. A auto-reflexão do espírito, porém, não é fim em si, mas meio para atingir uma visão de mundo. Assim, em terceiro lugar, a filosofia é teoria da visão de mundo. O campo da filosofia divide-se, portanto em três partes: teoria da ciência, teoria do valor e teoria da visão de mundo.
Uma ulterior divisão dessas partes fornece as principais disciplinas da filosofia. A teoria da visão de mundo é decomposta em metafísica (que, por sua vez, divide-se em metafísica da natureza e metafísica do espírito) e em teoria da visão de mundo em sentido estrito, que investiga as questões referentes a Deus, à liberdade e à imortalidade. A teoria do valor divide-se, segundo os diferentes tipos de valor, nas teorias dos valores  éticos, estéticos e religiosos. Obtemos, assim, três disciplinas: ética, estética e filosofia da religião. A teoria da ciência, finalmente, é decomposta em teoria formal e doutrina material da ciência. A primeira chamamos de lógica; a última, de teoria do conhecimento.
Assinalamos, assim, o lugar que a teoria do conhecimento ocupa no conjunto da filosofia. Segundo o que foi dito, ela é uma parte da teoria da ciência. Podemos defini-la como teoria material da ciência ou como teoria dos princípios materiais do conhecimento humano. Enquanto a lógica investiga os princípios formais do conhecimento, as formas e leis gerais do pensamento humano, a teoria do conhecimento dirige-se aos pressupostos materiais mais gerais do conhecimento científico. Enquanto a primeira prescinde da referência do pensamento aos objetos e considera o pensamento puramente em si, a segunda tem os olhos fixos justamente na referência objetiva do pensamento, na sua relação com os objetos. Enquanto a lógica pergunta a respeito da correção formal do pensamento, sobre sua concordância consigo mesmo, com suas próprias formas e leis, a teoria do conhecimento pergunta sobre a verdade do pensamento, sobre sua concordância com o objeto. Também podemos, por isso, definir a teoria do conhecimento como a teoria
do pensamento verdadeiro, por oposição à lógica, definida como a teoria do pensamento correto. Torna-se claro, assim, o significado fundamental da teoria do conhecimento para todo o campo da filosofia. É com todo o direito que ela será chamada de philosophia fundamentalis, ciência filosófica fundamental.
Costuma-se dividir a teoria do conhecimento em geral e especial. A primeira investiga a relação do pensamento com o objeto em geral. A segunda toma como objeto  de uma investigação crítica os axiomas e conceitos fundamentais em que se exprime a referência de nosso pensamento aos objetos. Começaremos, naturalmente, com a apresentação da teoria geral do conhecimento. Antes, detenhamos brevemente nosso
olhar sobre a história da teoria do conhecimento.
Texto de Jonhan Hessen - Teoria do Conhecimento p.12, 13 e 14

sexta-feira, 11 de março de 2011

As meninas-lobo

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianç as, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma familia de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.
Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lan ando a cabeça para a frente e lambendo os liquidos. Na institui ão onde foram recolhidas,
passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite,  procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.
Kamala viveu durante oito anos na instituiÇão que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.
Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que
cuidaram dela e às outras crianÇas com as quais conviveu.
A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras
de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples.
(B. Reymond, Le développement social de l'enfant et de 1'adolescent, Bruxelas,Dessart,1965, p.12-14, apud C. Capalbo, Fenomenologia e ciências humanas, Rio de Janeiro, J. Ozon Ed.p. 25-26.)
in: Filosofando: Introdução à Filosofia

Por que filosofar?

(Reflexão jasperiana)

Por Ivan Luís Schwengber
ivansophia@hotmail.com

Jaspers, filósofo alemão diz:“A filosofia é universal. Nada existe que a ela não diga respeito. Quem se dedica à filosofia interessa-se por tudo. Mas não há homem que possa tudo conhecer. Que distingue a vã pretensão de tudo saber do propósito filosófico de apreender o todo? O saber é infinito e difuso; dele se valendo, procura a filosofia aquele centro a que fazíamos referência. O simples saber é uma acumulação, a filosofia é uma unidade. O saber é racional e igualmente acessível a qualquer inteligência. A filosofia é o modo de pensamento que termina por constituir a essência mesma de um ser humano.” Jaspers, p.12

“A filosofia é universal” na medida em que todos os aspectos da realidade podem ser pautados pela filosofia. Não existe um limite ou um assunto que não seja filosófico; o resultado disso é que um filósofo pode se deter sobre todo e qualquer assunto, contanto que trate o assunto filosoficamente. Porém, não pode o filósofo querer tratar de todas as questões, pois corre o risco de cair num discurso estéril e vazio.

O campo alcance do saber filosófico é infinito e ilimitado, porém a capacidade humana é limitada. Parece que nos encerramos em uma contradição: ora como pode a filosofia como atividade humana ser ilimitada, se as condições humanas são limitadas. É justamente isso que torna o conhecimento filosófico absolutamente democrático e assombroso, é que todos os homens podem filosofar de modo peculiar. Cada homem pode e deve dar a sua resposta aos enigmas que circunscrevem sua existência. A infinitude do campo da filosofia está justamente na infinitude de possibilidades que o ser humano tem de ser diferente e único, ‘centro de referência’ próprio.

O que significa tratar um assunto filosoficamente? Em primeiro plano deve ser tratado de forma racional. O verbo ‘Filosofar’ dentre outras coisas encerra algo que raciocinar. Todo o ser humano como ser racional pode filosofar, e aqui novamente esbarramos em um problema, todo conhecimento de alguma forma é racional (ou pelo menos deveria ser), mas o que há de específico na atividade da razão humana quando se propõe a filosofar?

É quando pensamos, no sentido mais profundo de nosso ser, sobre os problemas e desafios de nossa existência. É quando sem medo nos debruçamos sobre os problemas que nos tocam, na profundeza de nossa existência, e buscamos uma resposta. É quando Jaspers diz que a atividade ‘termina por constituir a essência mesma de um ser humano’. Isto significa que por um lado a filosofia é pessoal e subjetiva, pois deve ser um problema que me afeta e que me impulsiona a dar uma resposta só minha. Por outra lado, foge dos limites psicológicos subjetivos e cada homem trata racionalmente de seus problemas, que são os problemas filosóficos, e isso é ser racional. O problema é tratado por cada um como um representante de um ser humano racional, e a resposta sempre tem pretensões de universalidade.

Então a pergunta é: “Estou enfrentando os problemas de minha existência de forma racional, que resulta na absoluta responsabilidade sobre nos?” Pense nisso, a vida não tem desculpas.

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