sexta-feira, 11 de março de 2011

As meninas-lobo

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianç as, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma familia de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.
Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lan ando a cabeça para a frente e lambendo os liquidos. Na institui ão onde foram recolhidas,
passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite,  procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.
Kamala viveu durante oito anos na instituiÇão que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.
Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que
cuidaram dela e às outras crianÇas com as quais conviveu.
A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras
de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples.
(B. Reymond, Le développement social de l'enfant et de 1'adolescent, Bruxelas,Dessart,1965, p.12-14, apud C. Capalbo, Fenomenologia e ciências humanas, Rio de Janeiro, J. Ozon Ed.p. 25-26.)
in: Filosofando: Introdução à Filosofia

Por que filosofar?

(Reflexão jasperiana)

Por Ivan Luís Schwengber
ivansophia@hotmail.com

Jaspers, filósofo alemão diz:“A filosofia é universal. Nada existe que a ela não diga respeito. Quem se dedica à filosofia interessa-se por tudo. Mas não há homem que possa tudo conhecer. Que distingue a vã pretensão de tudo saber do propósito filosófico de apreender o todo? O saber é infinito e difuso; dele se valendo, procura a filosofia aquele centro a que fazíamos referência. O simples saber é uma acumulação, a filosofia é uma unidade. O saber é racional e igualmente acessível a qualquer inteligência. A filosofia é o modo de pensamento que termina por constituir a essência mesma de um ser humano.” Jaspers, p.12

“A filosofia é universal” na medida em que todos os aspectos da realidade podem ser pautados pela filosofia. Não existe um limite ou um assunto que não seja filosófico; o resultado disso é que um filósofo pode se deter sobre todo e qualquer assunto, contanto que trate o assunto filosoficamente. Porém, não pode o filósofo querer tratar de todas as questões, pois corre o risco de cair num discurso estéril e vazio.

O campo alcance do saber filosófico é infinito e ilimitado, porém a capacidade humana é limitada. Parece que nos encerramos em uma contradição: ora como pode a filosofia como atividade humana ser ilimitada, se as condições humanas são limitadas. É justamente isso que torna o conhecimento filosófico absolutamente democrático e assombroso, é que todos os homens podem filosofar de modo peculiar. Cada homem pode e deve dar a sua resposta aos enigmas que circunscrevem sua existência. A infinitude do campo da filosofia está justamente na infinitude de possibilidades que o ser humano tem de ser diferente e único, ‘centro de referência’ próprio.

O que significa tratar um assunto filosoficamente? Em primeiro plano deve ser tratado de forma racional. O verbo ‘Filosofar’ dentre outras coisas encerra algo que raciocinar. Todo o ser humano como ser racional pode filosofar, e aqui novamente esbarramos em um problema, todo conhecimento de alguma forma é racional (ou pelo menos deveria ser), mas o que há de específico na atividade da razão humana quando se propõe a filosofar?

É quando pensamos, no sentido mais profundo de nosso ser, sobre os problemas e desafios de nossa existência. É quando sem medo nos debruçamos sobre os problemas que nos tocam, na profundeza de nossa existência, e buscamos uma resposta. É quando Jaspers diz que a atividade ‘termina por constituir a essência mesma de um ser humano’. Isto significa que por um lado a filosofia é pessoal e subjetiva, pois deve ser um problema que me afeta e que me impulsiona a dar uma resposta só minha. Por outra lado, foge dos limites psicológicos subjetivos e cada homem trata racionalmente de seus problemas, que são os problemas filosóficos, e isso é ser racional. O problema é tratado por cada um como um representante de um ser humano racional, e a resposta sempre tem pretensões de universalidade.

Então a pergunta é: “Estou enfrentando os problemas de minha existência de forma racional, que resulta na absoluta responsabilidade sobre nos?” Pense nisso, a vida não tem desculpas.

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