sexta-feira, 8 de abril de 2011

Como sabemos alguma coisa?

por Ivan Luís Schwengber
O objetivo deste texto é apresentar uma investigação filosófica do que possuímos no interior de nossa mente. Uma investigação acerca do que podemos realmente conhecer significa buscar de onde provém o conteúdo de nossa mente e como temos certeza que este conteúdo corresponde a algo real. Consideraremos que só existe conhecimento porque existe alguém que conhece algo. A questão, a saber, é a seguinte: qual a certeza que o que temos no interior de nossa mente (sabemos) corresponde ao mundo como ele é?

A única coisa que temos certeza que existe é o interior de nossa mente: não temos certeza de que algo exterior existe a não ser pela nossa análise interior.

A atitude vulgar das pessoas é de não duvidar que realmente conheçamos algo. Mas como saber se a folha que estou vendo agora realmente existe? Normalmente cremos que existe porque assim estamos acostumados a aceitar. Colocaremos isto em dúvida.

A primeira hipótese para resolver o problema é partir do mundo exterior, daquilo que experienciamos. Podemos argumentar que estamos vendo ou sentindo a folha, e por isto, sabemos que ela realmente existe, se ela não existisse não poderíamos percebê-la. [Pois eu só posso pensar numa folha porque já tive a experiência desta folha. O conteúdo de nossa mente está diretamente vinculado a nossa experiência exterior, logo, é evidente que esta experiência corresponde a algo real.] .

Mas, o que está posto em dúvida é justamente saber se esta impressão (imagem) corresponde a algo. Se aceitarmos que a imagem existe porque existe um objeto externo, estamos argumentando em círculo. Justificamos a existência da imagem pela existência do objeto real e, depois, justificamos a existência do objeto real pela imagem. Não podemos justificar o que é dado pelos sentidos justificando pelos sentidos ou justificar a experiência a partir da experiência.

Pensemos na hipótese contrária: como se o que existisse só existisse como nosso pensamento. O mundo seria somente um produto de nossa mente, numa espécie de idéia individual. Assim, se todas as coisas que percebemos pelos sentidos fossem algo similar a um sonho ou uma alucinação, como saberíamos se existe o mundo “real”?

Não teríamos como saber se existe ou não um mundo fora de nós. Para solucionar esta hipótese poderíamos recorrer aos sentidos, mas como vimos, os sentidos só teriam significado internos em nossa mente. Ou seja, os sentidos são somente algo que o indivíduo sente, isto não é evidência do exterior, mas somente uma certeza do que estamos sentindo; isto pode simplesmente ser uma ilusão dos sentidos e não corresponder a nada de real exterior.

Tentaríamos provar o que existe fora de nossa mente a partir do que acontece no interior de nossa mente. Isto desemboca necessariamente na idéia de só tenho certeza do que existe dentro de nossa mente, e não teria certeza alguma se o que está fora corresponde a isto. O interior de nossa mente não nos prova nada com certeza a respeito do que está fora. Parece que caímos inevitavelmente na “prisão” de nossa mente, e que tudo o que sabemos pode ser compatível com a idéia de que não existe nada fora dela.

Podemos pensar ainda: como tenho certeza que o corpo que nos pertence realmente corresponde a algo real? Tudo o que sabemos sobre nosso corpo nos é dado pelos sentidos. Se pensar em minhas mãos que estão escrevendo neste momento, sinto-as. Mas se tudo fosse produto de nossa mente? A idéia mais plausível é a de que talvez a única coisa que existe é o sujeito que pensa ou que tem experiências interiores, e o mundo físico poderiam não existir ou, se existe, existe somente em nossa mente. Esta idéia desemboca no solipsismo; de que o que existe, existe só em nossa mente, nosso mundo interior. O solipsismo é uma visão solitária de mundo. Ela se torna angustiante porque o sujeito fica isolado e abandonado em um mundo interior e individual. É solipsista a pessoa que pensa que tudo existe somente quando existe para si.

Concluímos que não podemos saber nada com certeza acerca do mundo exterior. Sabemos somente o que está no interior de nossa mente, e se existe um mundo exterior, sobre este não podemos saber se é tal como nos aparece. Conhecemos nossas impressões ou o que os nossos sentidos nos demonstram. Esta visão é chamada de ceticismo.

Não podemos por em dúvida a própria evidência do sujeito presente, mas podemos aprofundar o ceticismo, se nos perguntarmos acerca das experiências passadas. Todo o passado nos é fornecido pela memória, haja vista que, para nossa mente, só existe o presente, o agora. A memória está amparada na idéia da confiança nas experiências passadas. Assim, se pensar no que estávamos fazendo antes de ler este texto, como tenho certeza que isto existiu? A certeza provém na confiança na experiência que tive naquele momento.

A posição cética pode causar certo desconforto às pessoas que comumente estão acostumadas a aceitar as representações de nossa mente como evidentes na expressão do mundo.

A dúvida é que podemos prever certa causalidade de alguns eventos. Todas experiências devem ter uma causa, isto é, a toda impressão que tenho de um objeto deve corresponder um objeto. A dúvida do cético é: (i) como saber se esta causa existe? (ii) Por que todas as coisas devem ter uma causa? Em suma: o princípio interno da causalidade que nossa mente compreende tem somente validade interna, e não temos nenhuma garantia de que este princípio possa ser aplicado a algo exterior. Isto é, é assim que nós humanos compreendemos a relação exterior das coisas a partir do princípio de causa e efeito. Isto não significa necessariamente que este princípio interno exista na realidade exterior.

Outra dúvida poderia surgir a partir da ciência, que com suas descrições pormenorizadas e analíticas não poderia aproximar-nos mais do mundo físico. A ciência também não ajuda a resolver este problema, porque ela parte de princípios gerais que são aceitos na comunidade cientifica. Estes princípios são os responsáveis pela passagem do senso comum à explicação complexa da realidade. Assim, a ciência é uma explicação do mundo como não nos aparecem. Uma teoria explica algo que não podemos observar diretamente. Logo, a teoria científica é tão vulnerável ou mais à crítica do que as percepções dos sentidos, pois, na experiência ordinária, se aceita a realidade como nos é dada pelos sentidos, ao passo que a ciência reformula a visão ordinária da realidade a partir de princípios lógicos.

Existe, porém uma possibilidade que surge como uma alternativa para o ceticismo. Afirmando que o ceticismo não faz sentido; uma realidade que não pode ser descoberta não é realidade. O sonho só tem sentido enquanto sonho, porque a vigília comprova o sonho. Uma alucinação só é uma ficção da realidade porque comparo com uma realidade que a comprova como tal. Desta forma, se aceita que a “realidade” é um fato da experiência, só poderemos demonstrá-la como falsa ou como mera aparência, se poder ser comparada com outra realidade. A primeira “realidade” somente poderia ser provada como falsa, se existisse alguma forma de provar sua falsidade com uma que não seria falsa. Esta visão chama-se verificacionismo: uma realidade que não puder ser demonstrada como falsa, é real. Não tem sentido falar em realidade que não é descoberta.

O cético, segundo o verificacionismo, se ilude, porque deveria provar que o observável não existe, o que é impossível. Assim, o solipsismo também não faz sentido, porque suprindo o mundo exterior ao sujeito, as impressões passam a ser única realidade deste sujeito. O solipsismo que se baseia na idéia de que a única realidade é a realidade do pensamento, caso não exista outra realidade exterior para demonstrar que a realidade do nosso pensamento é solitária, esta passa ser a única realidade.

O cético argumentaria que existir e observar não são a mesma coisa. Pode existir logicamente um mundo real sem que seja observado. Não há vínculo direto de que existência deve ser experienciada.

Parece que não é possível fugir do confinamento de nossa mente, que é a única evidência absoluta. Toda a tentativa de provar o mundo exterior cai num circulo vicioso. Contudo, as pessoas sempre viverão como se o mundo exterior existisse, apesar do ceticismo ser logicamente mais correto. Em resumo, de maneira natural sempre aceitaremos, mesmo sem razões, as impressões como fonte do real.

Uma breve introdução a Filosofia

Adaptado por Ivan Luis Schwengber
Este texto tem o objetivo de introduzir o leitor à filosofia. Pessoas com idade avançada e que não tiveram oportunidade de apreender ou pessoas que estão em idade de cursar uma faculdade encontrarão neste texto uma introdução fácil. Contudo, o texto também é destinado a estudantes de filosofia do ensino médio que se interessa por questões complexas e reflexões abstratas. Em suma, o texto é destinado a todo e qualquer leitor inexperiente que pretenda dedicar-se à filosofia.

O objetivo deste texto é investigar a importância das questões filosóficas. Quando alcançamos a idade de estudar filosofia, já estamos com nosso raciocínio bem desenvolvido. Grande parte das vezes, isto significa que estamos já acostumados a conviver com certas coisas e dar certas respostas prontas. Questões como: o que podemos conhecer? - o que é certo ou errado?- qual o significado da vida? – qual a razão da morte? – existe Deus? – e outras tantas são questões a respeito das quais todos em algum momento da vida se indagaram, porém, não sendo encontradas as respostas definitivas e conclusivas, nós passamos a aceitar respostas casuais e simples já dadas anteriormente. O objetivo aqui é analisar estas questões naturalmente intrigantes aos seres humanos.

Existem duas maneiras ou métodos para se abordar as questões filosóficas. A primeira consiste em dialogar com autores consagrados, que discutiram longamente estas questões. A segunda maneira de abordagem é nos debruçarmos diretamente sobre tais questões reflexivas, que brotam da relação direta do homem com o mundo.

O método é tratar de questões simples às complexas, se justifica na medida em que este texto é destinado a leitores leigos em filosofia.

A idéia central é defender que a filosofia nasce da relação direta do homem e o mundo, e não somente ler filósofos. Ler filósofos já consagrados permite-nos enveredar diretamente no círculo filosófico já consagrado, porém a filosofia nasce da indagação direta do homem sobre o mundo, logo, a leitura deve manter este vínculo instigante do homem com o mundo. A filosofia é uma indagação natural do ser humano, manter ou despertar esta indagação qualifica o estudante a ler textos filosóficos.

Quando buscamos respostas a estas questões na filosofia, encontramos textos que freqüentemente têm uma linguagem específica, criando empecilhos para a reflexão por possuir marcas da época e dos conceitos próprios do autor. Esta dificuldade desperta aversão do leitor, que perde o vínculo da reflexão com a indagação, fazendo-o facilmente desistir do estudo de filosofia. Vejamos algumas características da filosofia:

I. A filosofia encontra-se entre as disciplinas das escolas e constitui uma área do conhecimento, mas qual será o espaço da filosofia no conhecimento? A filosofia é juntamente com a matemática, uma ciência da razão, porém se diferencia matemática, porque não possui um método de análise de seus resultados. Esta caracterização consiste em considerar a filosofia uma ciência da razão, como a matemática, mas devido a sua relação direta com os inúmeros problemas enfrentados pelo homem na sua relação com o mundo, não pode ter um método que garanta resultados exatos.

II. A filosofia não se assemelha às ciências da natureza por não se justificar por meio de observações e experimentos, mas questiona o fundamento conceitual e cognitivo destes experimentos. Em suma, a filosofia é apenas uma idéia, em que se imaginam argumentos para testar o limite e o alcance de nossos conceitos, isto significa tentar precisar até que ponto nosso pensamento consegue expressar a realidade. A filosofia não passa de um pensamento que não tem utilidade direta, mas tudo que ela aborda é tratado apenas nos limites do pensamento; sendo que por vezes nosso pensamento pode não estar submetido ao rigor lógico de expressar uma coerência verdadeira na interpretação do mundo. É assim, é uma ciência discursiva, pois lida somente com conceitos. Assim, ninguém precisa definir o número 1 (um), mas simplesmente o aceitamos como evidente, no entanto, ao perguntar acerca do espaço, de Deus, alma, liberdade, do Eu, logo percebemos que surgirão dificuldades para aceitar um consenso ou e uma grande dificuldade para defini-los. Logo, a esta segunda caracterização consiste em diferenciar a filosofia das ciências naturais, no que tange as experiências.

A terceira diferenciação consiste em demonstrar como a filosofia faz um questionamento profundo, que a ciência tem como pressuposto. A especificidade da filosofia é a sua simplicidade. Uns questionamentos simples do nosso dia-a-dia, que a ciência pressupõe. Portanto, a filosofia tem uma característica ampla e interdisciplinar. Por exemplo: a história estuda os acontecimentos no tempo, a filosofia pergunta o que é o tempo; a ciência pergunta sobre as relações da matéria, a filosofia pergunta, se podemos conhecer a matéria. É assim com a psicologia, física, línguas etc.

A filosofia questiona a coisa em si, isto significa que enquanto que a física e a geografia lidam e aceitam a noção de espaço, e a partir dele fazem suas implicações, a filosofia tentará definir o que é o espaço enquanto tal. Questionando-a, questiona o mundo e nós mesmos. Esta indagação sobre as coisas em si é simples e básica. Estas questões simples em geral não requerem recursos técnicos ou instrumentais, como microscópio ou medidores avançados, estão à disposição de toda e qualquer pessoa que se proponha a questionar e refletir sobre elas. Portanto na maioria das vezes, estas são consideradas desnecessárias para o cotidiano atarefado das pessoas.

As questões filosóficas são problemas sem solução cabal. São problemas que recebem respostas que não possuem longa sustentação temporal, pois logo sofrem novos questionamentos. O objetivo do presente texto não é, todavia, dar uma resposta, mas apresentar o problema e, a partir disto, apresentar possíveis soluções ou caminhos de solução, sempre reservando ao leitor a possibilidade de aceitá-las ou rejeitá-las.

Vejamos algumas das principais questões filosóficas.

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