quarta-feira, 20 de março de 2013

A filosofia entra a ciência e religião - Russel

FILOSOFIA Filosofia é uma palavra que tem sido empregada de várias maneiras, umas mais simples e outras mais restritas. Pretendo emprega-la em seu sentido mais amplo, como procurarei explicar mais adiante. A filosofia conforme entendo a palavra, é algo intermediário entre a Teologia e a Ciência. Como a Teologia, consiste de especulações sobre assuntos a que o conhecimento exato não conseguiu até agora chegar, mas, como Ciência, apela mais à razão humana do que à autoridade, seja esta a da tradição ou a da revelação. Todo conhecimento definido – eu o afirmaria – pertence à Ciência; e todo dogma, quanto ao que ultrapassa o conhecimento definido, pertence à Teologia. Mas entre a Teologia e a Ciência existe uma Terra de Ninguém: é a Filosofia. Quase todas as questões de máximo interesse dos espíritos especulativos são de tal índole que a ciência não as pode responder, e as respostas confiantes dos teólogos já não nos parecem tão convincentes como o eram nos séculos passados. Acha-se o mundo dividido em espírito e matéria. E, supondo-se que assim seja, que é espírito e que é matéria? Acha-se o espírito sujeito a matéria, ou é ele dotado de forças independentes? Possui o universo alguma unidade ou propósito? Está ele evoluindo rumo a alguma finalidade? Existe realmente leis da natureza, ou acreditamos nela devido unicamente ao nosso amor inato pela ordem? É o homem o que ele parece ser ao astrônomo, isto é, um minúsculo conjunto de carbono e água a rastejar, impotentemente, sobre um pequeno planeta sem importância? (...) Existe uma maneira de viver que seja nobre e outra seja baixa, ou todas maneiras de viver são simplesmente inúteis? Se há um modo de vida nobre, em que consiste ele, e de que maneira realiza-lo? Deve o bem ser eterno, para merecer o valor que lhe atribuímos, ou vale a pena procura-lo, mesmo que o universo se mova, inexoravelmente, para a morte? Tais questões não encontram respostas nos laboratórios. As Teologias tem pretendido dar respostas, todas elas demasiadamente concludentes, mas a sua própria segurança faz com que o espírito moderno as encare com suspeita. O estudo de tais questões, mesmo que não se resolvam esses problemas, constitui o empenho da Filosofia. Mas por que, então – poderíamos perguntar – perder tempo como problemas tão insolúveis? A isto, poder-se-ia responder como o historiador ou como individuo que enfrenta o terror da solidão cósmica. (...) Desde que o homem se tornou capaz de livre especulação, suas ações, em muitos aspectos importantes, tem dependido de teorias relativas ao mundo e à vida humana, relativas ao bem e o mal. Isto é tão verdadeiro em nossos dias como em qualquer época anterior. Para compreender uma época ou nação, devemos compreender sua filosofia e, para compreendermos sua filosofia, temos de ser, até certo ponto, filósofos. Há uma relação causal recíproca. As circunstancias das vidas humanas contribuem muito para determinar a sua filosofia, mas, inversamente, sua filosofia muito para determinar tais circunstâncias. (Bernard Russel, História da Filosofia Ocidental).

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