A questão de falar sobre amizade,
é tratar daqueles sentimentos que desenvolvemos espontaneamente, que surge
desde os efêmeros relacionamentos. Desde os primeiros contatos que fizemos,
sendo no contato familiar ou não, sentimos um apreço e uma simpatia muito
grande por certas pessoas, que chamamos de amigos.
É comum ver crianças nas escolas
fazendo pactos de amizades ou qualificando os relacionamentos entre os
“verdadeiros” e “falsos” amigos.
Amizade é um tipo de amor. Porém,
comumente quando chamamos de amor referimo-nos em um sentimento próprio que
chamamos de casal (no sentido restrito). Talvez a amizade é aquele tipo de
relacionamento, por afinidade; coisas que possuímos e sentimos em comum com
certas pessoas.
A amizade é um tipo intermediário
de amor, que não chega a ser possessivo o exclusivo, mas também possui sua
versão idealizada: como uma espécie de outro eu. Aristóteles postulou como o
ápice dos relacionamentos humanos. Pois o homem é um ser social, e a amizade é
o relacionamento virtuoso por excelência.
Podemos ter vários amigos sem que
necessariamente um implique no outro. Algumas vezes querem o status de únicos, principalmente quando
envolve um triângulo afetivo. Uma amiga briga com uma segunda, e a terceira que
amigas de ambas é obrigado a escolher entre uma ou outra. Mas este sentimento
de posse muitas vezes é mais inseguranças do que necessariamente amizade.
Para designar amizade tempos
algumas características aceitas comumente:
“Esperamos que os amigos dizem a
verdade!”. Esperamos que nossos amigos digam a verdade mesmo que isto implique
no fim da amizade. Ou poderíamos nesse caso justificar a mentira? Para manter
deveríamos mentir? Qual o grau de mentira seria tolerável. Uma leve mentira
para manter a amizade seria então justificada? Idealmente isto é intolerável,
Wilde diz: “Amigo é aquele que nos esfaqueia pela frente”.
Dito de forma mais amável “A
verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus
defeitos, e de todas as nossas qualidades”. O certo é que numa relação há algo
de dialético, que não sozinho em mim, mas é algo que sugue do contato,
psicologicamente falando, o defeito do outro é talvez a minha incapacidade de
compreender.
Todavia o risco de se dizer a
“verdade” (minha verdade) é de perder a amizade. Porém, a mentira parece
inconcebível com o que chamamos de amizade, por que se considera uma traição. E
a traição soa como uma das mais abomináveis e contrárias característica do
amor. A traição parece que fere qualquer tipo de relação de simetria. A
palavras traição tem a mesma raiz etimológica de tradição: que significa passar
algo a outro, mas no caso de traição é passar algo em prejuízo do outro.
Leibniz já celebrava: “Que Deus
me cuide dos amigos, porque dos inimigos cuido eu”. Pois os amigos conhecem o
que há de frágil em nós, porque com eles baixamos a guarda e nos entregamos, confidenciamos e soltamos.
Então uma traição de um amigo sempre é mais cruel, pois eles sabem muito de
nós, e sobre eles depositamos nossa expectativa. E a dramática expectativa de
esperar algo no futuro que não se concretiza.
Outra característica que parece
adjetiva da amizade é sua durabilidade: “Se amizade for verdadeira deve ser
duradora”, sintetizada por Mario Quintana “Amizade é um amor que nunca morre”.
Porém, se a amizade for curta não será amizade? É possível existir amizade
distante? E os amigos que tivemos certo período da vida não são amigos?
Imaginemos os amigos que o tempo
e o espaço distanciou, pela morte. Parece que um amigo que morreu não deixa de
ser amigo, somente perdemos o contato. Mas e de pessoas que as circunstancias
nos distanciaram, mesmo assim continuamos ser Velhos amigos. O mais crítico
parece porém o caso dos amigos que brigaram. Parece que o desafeto finda a
amizade. Porém, isto apesar de não ser perceptível pelo sentimento de ódio, não
implica que aquilo que se tenha vivido em certo momento não tenha sido uma
verdadeira amizade. Não foi verdadeiro só porque não perdurou?
Existe uma outra máxima que
parece ser complicada: “Pode haver amizade verdadeira entre um homem e uma
mulher” (Consideramos esta máxima segundo a moral ocidental e cristã), mas
sutilmente significa “pode haver amizade quando há atração física, paixão ou
relação sexual?”. No mundo cristão não pode haver qualquer tipo de amor erotizado,
numa verdadeira amizade. Tal amizade
sofreria uma mudança não somente de quantidade de intimidade, mas
qualitativamente seria outra coisa: o Amor (casal). “Não pode haver amizade
entre um homem e uma mulher. Pode haver paixão, hostilidade, adoração, amor,
mas não amizade” (Wilde). Isto significa não colocar a amizade como uma espécie
de amor somente em intensidade, mas em qualidade.
Há ainda uma ultimam questão
contemporânea a ser discutida: O amor virtual. Num mundo em que as distancias
físicas são encolhidas pelas tecnologias de informação, e que os
relacionamentos físicos estão dando lugar à relacionamento mediatizados pelas
tecnologias digitais, a pergunta é pode uma amizade virtual receber o título de
amizade? Parece que estamos dispostos a aceitar que “velhos amigos” se
reaproximem, porém temos um pouco mais de dificuldade em aceitar amizades
mantidas somente pelo mundo digitalizado. A ala mais conservadora acredita que há
uma perda de contato, que no futuro as gerações (principalmente a geração Z)
terão problemas de relacionamentos.
Para finalizar há de se ter
amigos? Vale a pena ter e cultivar amizades? Parece que como seres sociais que
somos, é imprescindível ter amigos para sermos felizes. Porém, o número, a
intensidade, o tempo que esta amizade perdura, o que estamos dispostos a abrir
mão para manter uma amizade é uma questão de simetria e vontade de ambos. Em se
tratando de um relacionamento que envolve duas ou mais pessoas, significa que não
depende de uma pessoa só manter ou não a amizade. Ela depende de um conjunto de
fatores, dentre eles acolhimento do outro, o cultivo e tempo, e o querer, para
que possamos abrir mão do narcisismo do eu e abrir-se ao outro, para se
completar no nós.
Dito de forma simplificada,
somente com adesão livre, saímos de nossa subjetividade e mantemos relações
intersubjetivas (dois sujeitos).
A amizade diminui a posse, e aumenta
a possibilidade de dois espíritos livres manterem o prazer, o deleite ou a
alegrias de compartilhar e comungarem momentos juntos. A amizade não pretende
exclusividade, mas cumplicidade e in-clusividade. A capacidade de aceitar a diferença,
e compreender e aceitar o outro dentro de suas limitações.
O que a filosofia tem a dizer
sobre isso: “Conhece-te te a ti mesmo”: o outro te completa ou te suga,
conforme sua postura, não controlamos o outros, e muito menos o que sentimos,
mas guiamos a forma de vida que queremos levar, partindo de uma vontade
interior. Resumindo: a amizade não depende exclusivamente de mim, mas sem eu querer
manter não há qualquer possibilidade. Eu quero possibilita o nos queremos!
Loucos e Santos (Oscar Wilde)
Escolho meus amigos não pela pele
ou outro arquétipo qualquer,
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador
e tonalidade inquietante.
A mim não interessam:
os bons de espírito
nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim
louco e santo.
Deles não quero resposta,
quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias
e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco!
Quero os santos, para que
não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos
pela alma lavada
e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo,
quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto,
não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:
metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis,
nem choros piedosos.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade
sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância
e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam
o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois, os vendo loucos e santos,
bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que "normalidade"
é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde
ou outro arquétipo qualquer,
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador
e tonalidade inquietante.
A mim não interessam:
os bons de espírito
nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim
louco e santo.
Deles não quero resposta,
quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias
e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco!
Quero os santos, para que
não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos
pela alma lavada
e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo,
quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto,
não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:
metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis,
nem choros piedosos.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade
sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância
e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam
o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois, os vendo loucos e santos,
bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que "normalidade"
é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde
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